quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Sobre o Encontro de Dança de Guarulhos 2014





Terminou no dia 17 o Encontro de Dança de Guarulhos 2014. Nas últimas três semanas, o Teatro Adamastor recebeu mais de 20 apresentações de companhias guarulhenses e convidadas, além de workshops ministrados por companhias destacadas da edição anterior, que retornaram este ano com participações especiais por meio da programação Cena.com Partilha.

Organizado pela Secretaria de Cultura de Guarulhos, o Encontro de Dança tem o objetivo de identificar e divulgar manifestações cênicas relativas à linguagem da dança, promovendo o intercâmbio entre os artistas e a comunidade com espetáculos para todos os públicos, com ingressos gratuitos.



As atividades tiveram início em 2 de agosto com as participações especiais do espetáculo I-Moralidade, interpretado pelo jovem artista Tony Riber (que na ocasião representou a turma de dança da Escola Viva de Artes Cênicas), e do espetáculo  Platô, da InSaio Cia. de Arte. Entre os convidados, o evento recebeu o Coletivo Shop Sui com os espetáculos Black Out e Meu doce estimado, e as participações especiais da Cia. Khalina Aymelek, Cia. Estável Selma Roth, Centro de Dança Yara Ciconi, e Corpo Urbano em Movimento. Além das atividades programadas, houve ainda a apresentação de diversos números de dança em um palco aberto criado por iniciativa de companhias participantes.


Foto do espetáculo I-Moralidade (por Rodrigo Kees)


Uma das principais características do Encontro de Dança de Guarulhos é a realização de bate-papos entre as companhias, sempre com a mediação de uma comissão artística. São momentos dedicados ao diálogo, troca de experiências e reflexões sobre questões relativas ao fazer artístico da dança, bem como aos espetáculos apresentados e aos processos de trabalho das companhias. Em 2014, a mediação foi feita por Fernanda Perniciotti, pesquisadora e curadora do Encontro das Artes do Corpo - PUC, e Edson Santos, coreógrafo residente na Companhia Independente de Dança de São Paulo. E, conforme prevê o regulamento, a comissão artística indicou três espetáculos que, como forma de incentivo à continuidade de suas pesquisas, foram contemplados com o Prêmio Guarulhos Cultural, instituído pela lei municipal 6131/2006: Macondo, da Cia. de Dança Oriental Khalina Aymelek, É o que tem pra hoje, da Cia. 3+Um , e Por detrás da porta, do Núcleo de Dança Luana Rodrigues.




Palco aberto do Encontro de Dança de Guarulhos















Na ocasião do encerramento, Fernanda e Edson fizeram a leitura de um texto que busca contribuir para a compreensão do sentido do Encontro de Dança e reforçar sua relevância para a troca de experiências artísticas em dança na cidade:


"O Encontro de Dança de Guarulhos chega ao fim de mais uma edição. O projeto, que acontece há muitos anos, transformou a sua proposta, reconhecendo as necessidades do ambiente em que atua. A profissionalização da dança convoca a compreensão de que nosso corpo é histórico e não começa e nem termina no aqui-agora. A formação e a busca por referências artísticas precisam ser companheiras inseparáveis dos artistas, gestores e dos estudiosos da arte. O trabalho é infindável e se renova a cada dia.

Ao desvincular-se da tradição dos ‘festivais competitivos’, tão disseminados em nosso meio, o Encontro mostra-se sensível ao atual momento da dança no Brasil. Como já se sabe, a competição não tem ajudado a construir um bom cenário para os que desejam fazer da dança a sua profissão. Em outra direção, a prefeitura de Guarulhos procura formas de qualificar e expandir a dança na cidade através do compromisso que é tecido entre gestão, artistas, mediadores e público.

O desafio que o evento traz a todos é a possibilidade do ‘encontrar/encontrar-se’. Encontro como possibilidade de construir outras formas produzir dança. Encontro como oportunidade de contribuir com o trabalho do outro. Encontro como necessidade de autocrítica. Encontro como modo de compreender a dança em camadas mais profundas e amplas.

O Encontro de Dança é um momento para se refletir sobre escolhas e condições artísticas. Não apenas na cidade de Guarulhos, mas também em todo o estado de São Paulo e Brasil, o espaço para a dança só acontece na medida em que os artistas se reconhecem, conseguem se reunir em uma organização conjunta e passam a se entender como parte de um contexto maior – tanto no âmbito artístico como social e político.

Os percalços e desacordos podem ser vistos como tensões produtivas que permitem a quebra de certezas. Surge, então, o desconforto que implora por mudanças. Isso parece ter acontecido nesses dias e, felizmente, é o que importa. O Encontro de Dança de Guarulhos não termina hoje, domingo, mas continua na medida em que as questões que foram aqui discutidas reverberarem e contribuírem para as transformações que, ainda tímidas, começam a surgir.